10.4.07

"Era uma vez, há 15 anos... "

R.E.M. - Automatic for the People (1992)


O R.E.M. tinha acabado de lançar o seu disco mais famoso até o momento, Out of Time. Com este trabalho de 1991, o grupo faturou todos os prêmios possíveis, incluindo o Grammy e o MTV awards. Tudo isso por conta dos mega-hits, "losing my religion" e "shinny happy people". Que além de boas músicas, possuíam vídeos capazes de cativar até aqueles considerados não-fãs.

Só que antes disso, nada tinha sido tão grande para eles. Até mesmo na época de Document (1987), em que conseguiram disco de platina e emplacaram o poderoso hit "The One I love", a atmosfera era mais branda. Certamente Document, não tinha ainda dado a banda um caráter de respeito, mas sim, uma versão de descoberta, aquela das estrelas cadentes, que fazem diversas bandas acontecerem.

Mas vamos adiantar a fita outra vez, e chegar a 1992.

Logo após ao estouro causado por Michael Stipe e sua banda, o R.E.M. esqueceu o rock dançante de Out of Time e se apegou a acordes clássicos e melodias mais limpas. Todo aquele groove do trabalho passado, deu lugar a um ritmo cadenciado. Muitos dizem que essa influência veio, quando eles gravaram um acústico no ano anterior. Nas lojas, chegava Automatic For The People. Um disco grandioso.

Automatic For The People é considerado pela crítica especializada como o melhor disco da banda. Michael Stipe se consolidou de vez como mega star. Suas letras estavam mais tocantes, e sua interpretação foi no talo.

O início do disco é arrasador. "Drive", poderosíssima, abre o petardo com uma narração de auto questionamento, carregado por uma guitarra que acompanha o crescimento da melodia, quando há de ser. Que vai, pára, volta e apressa o ritmo de acordo com a vontade de Stipe. Ali mesmo, o R.E.M. já tinha dito o porquê de tudo isso. O disco já estava explicado.

O que veio a seguir, serviu para emoldurar a arte. Canções orquestradas, melancólicas, pianos clássicos e um rock, que se não tinha um ar tão juvenil como na época de Green (1988), ainda assim, soava como R.E.M.

Com um pouco de exagero, todos os elementos acima citados, faziam desse trabalho um tanto quanto temático.

Peter Buck, guitarrista da banda, definiu: "Nós fizemos um álbum de folk rock orquestra". Uma bela definição certamente.

O ritmo de fim de festa, vem à tona na música "The Sidewinder Sleeps Tonite". É a típica canção que caíria bem no momento em que todo mundo tivesse deixado a festinha, e a bebida ainda sobrasse na geladeira.

Mas os momentos que marcaram esse disco, foram os momentos mais delicados. Face esta, que o grupo ainda não tinha mostrado ao mundo. Não com tanta intensidade e por que não? Dramaticidade.

Representado em maior grau pela já clássica "Everybody Hurts", o R.E.M. deixou de lado toda aquela aquarela de "Shinny Happy People", para mostrar o cinza que marca a capa deste disco. E que mesmo assim, engana a quem puder pensar que a melancolia caminha só. Não mesmo.

Ainda que Automatic For the People não tivesse um poder comercial como o anterior (que vendeu cerca de 10 milhões de cópias no mundo), pois não possuía hits bombásticos capazes de provocar o mesmo frizon de uma "losing my religion", por exemplo, ele surpreendeu os analistas de mercado.

De cara, o disco entrou direto no segundo lugar da Billboard e encabeçou a parada inglesa. E também não só vendeu na mesma proporção que Out of Time, como ultrapassou (Automatic For The People vendeu em média 12 milhões de cópias).

Mas não espere encontrar aqui, aquela bandinha que tomou conta da MTV em 1991. Não espere dançar de início. Automatic é um disco que vai te conquistar aos poucos, mas que no fim, certamente você irá se alistar à tal trupe que coloca o álbum na berlinda.

Ao terminar de escutar o disco, você pode até ter saudade de "losing my religion", "shinny happy people", "the one I love", mas terá a certeza ao dizer que acabou de escutar o melhor disco desta banda. Ou quem sabe, o mais inspirado deles.

Bruno Eduardo

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