10.10.06

VOCÊ AINDA COMPRA CD?
POR CARLOS EDUARDO LIMA (ROCK PRESS)
BRUNO EDUARDO (ROCK MAGAZINE)

Você lembra do último disco que comprou? Lembra da sensação única de abrir o invólucro de plástico, olhar o interior, cheirar o papel do encarte, ler as informações integralmente enquanto o disco era lido pelo feixe de laser? É estranho perguntar sobre algo tão recente, colocando este ato como pertencente a um passado. O fato é que o mundo está mudando mais rápido que nossa capacidade de percepção e algumas atitudes estão sendo transformadas instintivamente. O consumo de música é algo que não pode mais ser comparado com o que era feito há cinco, dez anos.

Aqui, neste espaço a idéia é generalizar a todos, intencionalmente. Num universo em que arquivos digitais se transformam em música e vice-versa, o grande perigo é que toda música seja consumida de maneira efêmera e desimportante, o que é inaceitável. A música no computador parece um caso de amor que se transformou em casamento bem sucedido, de pessoas que nasceram uma para a outra. O grande motivo é a relação custo x benefício.

Façamos uma pequena conta de matemática. Se você quer comprar um disco nacional da sua banda preferida, provavelmente pagará algo em torno de 30, 35 reais. Você irá à loja, passará no caixa e levará o disco para casa, com todas as sensações descritas acima. São boas, justificam o investimento. Mas, e se você tiver um gravador de CD-R no seu computador?

Cada CD-R pode custar entre 1 e 3 reais. Fiquemos com a média, 2 reais. Já é cerca de 15 vezes mais barato que um disco original. Só que a capacidade de um CD-R é de 700 Mb, ou seja, há espaço na mídia para acomodar cerca de dez álbuns inteiros, com arquivos de imagem das capas e músicas gravadas em boa resolução. Se pensarmos que cada um desses dez álbuns é disponível no mercado nacional, o total do gasto, caso fossem comprados na loja, seria de 300 a 350 reais.

Mesmo assim, com todas as intempéries, a arte sobrevive a quase tudo. Muita gente que realmente gosta de música não vê como é possível não ouvir um bom disco jogado no sofá, fones no ouvido, lendo as letras do encarte, ficha técnica e outros dados que tendem a se perder nos meios digitais. Muitos ouvem o disco na internet antes, justamente para poder comprar com mais certeza. O artista, afinal de contas, merece a recompensa por seu trabalho e sua arte bem feitos.

E como o CD não anda muito barato, é mais do que justo poder ouvir antes de desembolsar 30 reais em média, para adquirir o produto. Eu faço isso sempre. Mesmo porquê, a arte do CD está dentro desta arte. O maior problema é que muita gente não trata mais a música como arte, nem o músico como artista. E acho até que o artista é muito culpado por isso. Pois deixa a postura de lado para o famoso clichê: "falem mal, mas falem de mim". E isso ocorre quase sempre na música alternativa ou independente. É uma pena.

EM BREVE lançaremos aqui na ROCK MAGAZINE, a seção NÃO BAIXE, COMPRE!

Que serão depoimentos de fãs e colaboradores sobre discos essenciais para se ter em casa.

Agradeço ao Carlos Eduardo Lima da Revista Rock Press, por ter colaborado com a gente nesse texto importante e ao mesmo tempo reflexivo.

PLAY 444
PEARL JAM - Pearl Jam XXXX

Desde “Riot Act”, de 2002, os fãs tem aguardado ansiosamente por um novo disco de estúdio da banda, que chega agora às lojas atendendo simplesmente pelo nome de “Pearl Jam”. O álbum traz 13 faixas com uma sonoridade mais crua, o que talvez não seja necessariamente uma novidade em se tratando do Pearl Jam, que se mostrou ao mundo na era do grunge e suas camisas de flanela xadrez, no início dos anos 90.
O Pearl Jam sempre deu sinais, com suas letras politizadas e de cunho social, de que estava muito à frente do aparente desleixo, principalmente com o visual, marca registrada de seus conterrâneos de Seattle, como Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains entre dezenas de outros.
Como um reflexo natural do sucesso e pretígio que a banda passou a desfrutar junto aos seus fãs, mídia e mercado fonográfico, a pirataria começou a rolar solta, principalmente em torno das sensacionais apresentações do Pearl Jam, como os brasileiros puderam conferir em 2005. Foi aí que, sempre inovando, Eddie Vedder e Cia mostraram que além de criativos musicalmente, também o são no terreno dos negócios e administração da carreira da banda, lançando em CD, a preços populares, os seus próprios ‘piratas’, que podem ser comprados no site oficial, inclusive os shows no Brasil. A disponibilização para download gratuíto do primeiro single “World Wide Suicide” e da íntegra do novo álbum em streaming para que pudesse ser ouvido uma semana antes do lançamento, também são exemplos disso.
Somados os discos criativos, a simpatia e os shows memoráveis, não é preciso dar mais detalhes dos motivos pelos quais os fãs colocam a banda entre as mais respeitadas do mundo na atualidade. E “Pearl Jam” não os decepcionará. O CD abre com a enérgica “Life Wasted”, seguindo com “World Wide Suicide”, “Comatose”, a mais direta do álbum, que remete a álbuns como “Vs” de 1993 e “Vitalogy” de 1994. “Unemployable” (desqualificado), que embora tenha uma levada alto astral, fala sobre um cara que longe de casa, segue com fé o seu caminho enfrentando as agruras da vida. “I’ve seen the light - Scared alive - I’m here to die - Scared alive” (Eu vi a luz - assustadoramente vivo - estou aqui para morrer - assustadoramente vivo).
Destaque também para “Severed Hand”, “Gone” e “Inside Job”, que fecha o álbum. Se você gosta de Pearl Jam, não perca tempo e complete sua coleção. Já se você não se inclui entre os fãs mais ardorosos, “Pearl Jam”, um dos melhores CDs da carreira da banda, é a oportunidade para deixar o preconceito um pouco de lado e conhecer melhor o trabalho desses caras.
Cesar Dechen

9.10.06

PLAY444
SONIC YOUTH - Rather Ripped XXX

Este álbum marca o retorno, após 2 anos terem se passado desde o lançamento do último trabalho, Sonic Nurse (2004), dos eternos “Deuses do Rock Alternativo”. Rather Ripped confirmas as suspeitas surgidas com o álbum anterior. Cada vez mais a banda está menos barulhenta, menos Sonic Youth. Não que a banda tenha se rendido ao Pop Mainstream - fato que duvido muito um dia poder acontecer - mas os nova-iorquinos cada vez mais optam por melodias mais 'fáceis' (quero dizer menos esquisitas), guitarras menos pesadas e vocais menos raivosos.

Os fãs mais ardorosos podem ficar tranquilos. A banda não está irreconhecível, o som ainda é facilmente reconhecido. Muitos elementos conhecidos do grupo foram preservados, como as letras com influência da literatura ‘beat’ e os barulhos sonoros. O resultado final se mostra maduro, para uma banda com aproximadamente 25 anos de carreira, que dá mostras de saber envelhecer.

Além do mais, o resultado final se mostra maduro, para uma banda com aproximadamente 25 anos de carreira, que dá mostras de saber envelhecer. Destaques para a faixa e abertura “Reena”, “Incinerate” (primeira música de trabalho do álbum), “Do You Believe in Rapture”, “Turquoise Boy” e “Pink Stream”.

Rather Ripped é um bom álbum, apenas menos experimental que os outros trabalhos da banda.

Aaron M.
PLAY 444
RED HOT CHILI PEPPERS - Stadium Arcadium XXXX

Eu tenho autoridade para falar do Red Hot Chili Peppers. Não sou um fanático pelo grupo, mas tenho uma simpatia pelo som dos caras. Tenho todos os discos, já os assisti ao vivo e presenciei a fase áurea deles no início dos anos 90. Mas tudo bem, isso é passado.
Após perepetuar o pior disco de sua carreira (By the Way), o Red Hot Chili Peppers surpreendem nesse novo trabalho.
Stadium Arcadium é um bom disco. Parece uma coletânea. É uma passagem por todos os estilos e tendências por eles realizadas.
E isso é bom e mau.
Bom porque conseguimos ouvir músicas que lembram Mothers Milk (Readyme), Bloodsugarsexmagik(Hump de Bump), e o melhor de Californication (Dani California).
Mau pelos momentos cansativos e melancólicos da banda. Por isso mesmo, uma pergunta:
Porquê um disco duplo?
Certamente o Red Hot poderia fazer um "Clássico" de 14 músicas, ao invés de um simpático trabalho de 28 canções.
E aí é que a porca torce o bico. Discorda? Então faça um teste:
Pegue um CD virgem e grave somente esta lista de músicas abaixo, certamente você vai dispensar as outras 14. Não que sejam ruins, pois poderiam até entrar na lista, substituindo outras, mas são claramente dispensáveis. O que poderia ser um trabalho irretocável, candidato a um dos melhores (ou quem sabe o melhor) do grupo, se torna apenas um grande disco (nos dois sentidos).
Eis a lista:
1. Dani California
2. Snow (Hey Oh)
3. Charlie
4. Hump de Bump
5. Slow Cheetah
6. Torture Me
7. Especially in Michigan
8. Warlocks
9. Desecration Smile
10. Tell Me Baby
11. 21st Century
12. Readymade
13. Storm in a Teacup
14. Turn It Again
Stadium Arcadium é um bom disco. E é a primeira vez que ser bom vira problema.
Pois o que poderia ser EXCELENTE, se torna BOM por erro de medida.
Bruno Eduardo
PLAY 444
AUDIOSLAVE - Revelations XXXXX

O Audioslave já está no terceiro disco. Quem achava que o projeto seria apenas um trabalho adicional na carreira desses caras, ou uma experiência egocêntrica, se enganou.

Após explodir no mundo inteiro com o primeiro álbum, carregado pelas excelentes "cochise" e "like a stone", o Audioslave passou no vazio com o segundo trabalho (Out Of Exile). Mesmo assim, os fãs gostaram.

A notícia é boa tanto para quem é fã da banda, como aqueles que não simpatizam muito.

Revelations é o melhor trabalho do grupo.

Aqui a música faz sentido. Um disco primoroso. Se no primeiro disco, muitos falaram que o Audioslave era o Rage Against The Machine com Chris Cornell no vocal, em Revelations haverá momentos que você vai jurar estar ouvindo Soundgarden (fase down on the upside). A banda está com a mesma categoria nos arranjos, mas o som está mais maduro. Parece que eles acharam o caminho que estavam procurando.

Alternando as levadas de guitarra, Tom Morello leva o Audioslave a um quase Funk Rock. O que torna diferenciado o trabalho de Cornell. Que deixa um pouco de lado os berros, mais do que conhecidos e algumas vezes saturados, para melodias firmes e limpas. Tornando o disco mais bonito e coeso também.

Se você não tem nenhum disco do Audioslave, pode comprar este.

Agora, se você tem tudo desses caras, será uma vergonha não possuir este disco.

Podem anotar, Revelations estará em todas as listas de melhores deste ano.

Bruno Eduardo
PLAY 444
PAPA ROACH - Paramour Sessions XXXX
Receita para gostar desse disco:
Esqueça o nome da banda. Isso serve para os críticos e para os fãs.
O Papa Roach nunca agradou muito os nossos jornalistas. Mesmo sendo, na minha humilde opinião, melhores que 80% dessas bandas do New Metal. E os fãs, sempre gostaram deles, exatamente por estarem englobados nesse estilo, considerado por mim como fúnebre. Fúnebre, porque daquela leva de bandas que surgiram na tal época da febre New Metal (ou Nu metal, Metal Adidas), o Korn ainda é o único a seguir fazendo a mesma coisa com um certo respeito e nome.
Mas seria o Korn o único sobrevivente dessa galera? Lógico que não. Quem tentou mudar de estilo, sobreviveu. Caso de System of a Down - que fez uma mistureba sonora de qualidade - e Incubus, que caiu no Rock Pop com progressivices. As outras bandas, vão se deteriorando com o tempo, e sumindo aos poucos.
Mas e o Papa Roach?
No disco anterior, o Papa Roach já mostrava uma vontade em cair no Rock. Deixar o lado chato desse estilo cansativo. O que torceu o bico de muitos fãs.
Por isso, esqueça o nome da banda que lança Paramour Session. Pois aqui não há nada daquele Papa Roach que você conheceu no Rock in Rio 3.
Aqui tem um Rock and Roll clássico com uma caída para o Hard Rock. Em algumas músicas chega a lembrar o Skid Row. O vocalista Coby Dick que antes ficava só fraseando, hoje canta de verdade. E canta muito bem por sinal. As letras não falam mais da infância sofrida, elas falam de amor, perda e conquista.
O Papa Roach corre o risco de perder alguns fãs com esse álbum, mas ganharão outros. A banda modifica o som e quem ouve também. No fim do disco, vem uma faixa bônus. É a versão ao vivo de "Scars" - registrada no show de Chicago que saiu em DVD no ano passado.
E muita gente vai gostar. Eu gostei.
Grande disco.
Destaques para: "Alive", "Fire", "I Devise My Own Demise" e "No More Secrets".
Bruno Eduardo

5.10.06

PLAY 444
IRON MAIDEN - A Matter of Life And Death XXX

Três décadas de carreira e mais de duas dezenas de álbuns lançados. Será que o Iron Maiden ainda consegue emocionar alguém?
O Iron sempre foi uma banda que deu muito valor a sua intelectualidade musical. Além de bons arranjadores, eles sempre mostraram boas letras e temas interessantes em seus discos.
A banda que já falou de faraós e futurismo, agora vem com um novo tema. Mas ninguém terá dificuldade de descobrir quando olhar a capa do disco. Certamemte uma das mais belas da história do grupo.
Em seu 14º disco de estúdio, A Matter of Life And Death, tanto a música quanto as letras mostram peso e um clima sombrio. Não é à toa: o tema principal é a guerra. O álbum não chega a ser conceitual, mas a maior parte das faixas fala sobre este tema. Um grande exemplo, é a música "These Colors Don't Run", que analisa a motivação dos soldados em combate.
Se o som da banda não mudou muito, para a alegria de fãs e a tristeza de não-fãs, pelo menos eles mudaram a forma de trabalhar. A banda preferiu gravar as músicas ao vivo, e não gravando cada instrumento individualmente. O resultado desse processo é uma sonoridade mais natural e, também, um álbum longo. O mais longo da carreira do Iron Maiden. O primeiro single, por exemplo, "The Reincarnation of Benjamim Breeg", tem 7 minutos e 22 segundos de duração. E quase todas as faixas beira aos 6 minutos.
Na maior parte do disco, as músicas começam devagar e explodem no "meio-de-campo". O que torna um álbum pouco cansativo também. Os fãs vão gostar desse A Matter of Life And Death, não tenho dúvidas, pelo menos ele é melhor que Dance of Death, o disco anterior.
Mas a pergunta que não quer calar ainda é:
Será que o Iron Maiden ainda consegue emocionar alguém?
Bruno Eduardo
PLAY 444
DOG FASHION DISCO - Adultery XXXXX
Você deve estar se perguntando: Dog Fashion o Quê? Não é por menos, o Dog Fashion Disco ainda não é uma banda muito popular aqui no Brasil. Tomara que após ler essa resenha, você tenha interesse em ouvir algo, pois o disco é simplesmente fantástico!
Adultery é o sexto disco dessa banda. E certamente o melhor trabalho deles. Que passeia pelo metal, jazz e dança de salão.
Aqui contém um estilo vanguardista, que lembra o System of a Down. Só que possui teclados e metais. Muitos comparam o Dog Fashion Disco ao Mr.Bungle. Não é por menos, além do estilo similar, a voz de Todd Smith é idêntica a de Mike Patton. E isso é um elogio!
Adultery foge do convencional, procura caminhos, sangra, aspira e expira a vontade de ser diferente mesmo querendo ser igual. Certamente alcançará ouvidos de alguns mais "espertinhos". Tomara que você seja um deles.
Então compre, baixe ou roube esse disco!
O que você não pode, é ficar sem conhecer este petardo.
Bruno Eduardo

4.10.06

PLAY 444
EVANESCENCE - The Open Door XXXX
Em 2003, o Evanescence ficou conhecido nos quatro cantos do mundo. O disco fallen, o primeiro do grupo, vendeu milhões de cópias e emplacou alguns hits nas rádios. A vocalista Amy Lee se tornou uma figura popular e a banda encabeçou a lista dos Tops por muito tempo. Depois disso a banda sumiu. Muitos boatos e verdades(o derrame sofrido pelo guitarrista Terry) correram e muitos davam como certo o fim da banda.
Boatos.
Este novo disco é a prova viva da vitalidade do grupo. Os fãs antigos podem ficar tranqüilos pois não vão se decepcionar.
The Open Door é um belo trabalho. Carregado por belas melodias.
As guitarras estão mais pesadas nesse segundo disco, mas a banda também enfatizou os pianos. Fizeram um instrumental no ponto para que a bela e competente cantora pudesse carregar o disco, e ela não decepciona. Pelo contrário, sua voz costura as músicas, fazendo com que o álbum soe o mais compacto possível.
Lógico que é impossível afirmar se esse disco vai vender como o anterior ou vai fazer tanto sucesso. Afinal, antes a banda era uma novidade e estava na moda. Mas afirmar que The Open Door é melhor que Fallen, não seria nenhum exagero.
Bruno Eduardo
PLAY444
HOOBASTANK - Every Man For Himself XXX

A expectativa é uma faca de dois gumes. Ela pode causar frustrações violentas. Mas também pode tranformar lagartas em lindas borboletas. No caso desse terceiro disco da banda Hoobastank, as borboletas nascem.

Eu praticamente desconhecia o Hoobastank. Conhecia uma música, a lenta "the reason", que tocou exaustivamente nas programações das nossas FM´s. Talvez por isso, não estava muito animado a ouvir este Every Man For Himself. Mas logo nos primeiros segundos do disco, notei que a banda tem um rock bem legal. Em alguns momentos, lembra o Incubus (fase Morning View), banda de qual gosto muito. E isso foi um dos ponto positivos.

Lógico que baladas não faltam, mas as guitarras estão presentes. E o melhor, na maior parte do trabalho.

O único problema desse disco, é conseguir escutá-lo até o fim com a mesma empolgação. Pois as melodias são muito parecidas e a voz repetitiva de Doug Robb não ajuda. Mesmo assim, é um bom disco.

Ou pelo menos, algo melhor do que você poderia esperar.


Bruno Eduardo
PLAY 444
PEEPING TOM - Peeping Tom XXXX

Esse é mais um projeto do ex-Faith No More, Mike Patton. O Peeping Tom é aguardado pelos fãs como a banda "pop" do vocalista. Depois de conhecer a fama e ganhar muito dinheiro com o FNM, Patton preferiu fazer música introspectiva e experimental. Só haveria uma pessoa no mundo que abriria as portas para investir em seus projetos: Ele mesmo. Por isso fundou seu selo, a Ipecac, e hoje tem o respeito de todos os indies e cults do mundo.

Mas além disso, Patton se misturou com muita gente. Participou de projetos de diversos artistas e convidou muitos deles a participar dos seus. O vocalista parece ter uma aversão a bandas. Ele quer é tocar com um monte de gente, em vários projetos. Ano passado tivemos a oportunidade de assistir ao vivo, uma dessas reuniões amigáveis, com o show do Fantômas no Claro que é Rock.

Em Peeping Tom, Mike Patton convidou uma galerinha mais cool. Norah Jones, Bebel Gilberto (com a bossa nova "caipirinha") e Dan the Automator(gorilaz), são alguns dos que participam dessa "festança". Em suma, é um bom disco. Possui bolachas que fazem lembrar o "véio" Faith No More. Além de trazer a criatividade peculiar do excelente vocalista.

Mas tem uma coisa que martela a minha cabeça:

Muitos se disseram frustrados com Peeping Tom. Sabe porquê? Dizem não possuir a mesma loucura dos outros projetos do cara.

Vai entender...

Então, ao invés de ouvir a opinião dos outros, ouça "mojo", "we're not alone" e "don' t even Trip".

Bruno Eduardo

3.10.06

!!!EU FUI!!! FRANZ FERDINAND - Fundição Progresso- RJ (14/09/06)
HIPERLOTAÇÃO! Deixando de lado uma possível má-fé, no mínimo a Fundição Progresso superestima a sua capacidade de público. Nos poleiros (eu não chamaria aquilo de arquibancadas) não havia muito mais espaço, pelo menos não espaço no sentido humano do termo. Um pouco mais de gente e já seríamos reduzidos à condição de gado. Como na pista! Não caberia mais um fio de cabelo lá embaixo.

O show começa e você vê a massa oscilando como se fosse um balde de óleo denso. Já na segunda música, o show é interrompido pela organização, que vai ao microfone avisar que a barreira de contenção estava cedendo, e pedem a colaboração do público. A resposta é uma sonora vaia. Vaiar quem, cara pálida? Se houvesse alguma tragédia, não iam culpar a organização por não se preocupar com a segurança? E quando se preocupam, levam vaia?! Resultado: o show é interrompido por alguns minutos. BEM FEITO!!

Eles são obrigados a utilizar aqueles malões de equipamento pra escorar a grade. A maior de todas, bem no meio, que acaba servindo de passarela pro vocalista chegar até o gado... digo, público.

O som, ruim, lembrou-me do antigo Circo Voador (o novo não, esse tem boa acústica). Ainda tem gente que acha que som alto é sinônimo de som bom. Eu descreveria a Fundição como um caixotão de sapato em pé, com zero de acústica. Teto de zinco! Eu não sei as propriedades acústicas do zinco, mas não me parece muito adequado, muita distorção, muita reverberação. Mas sei das propriedades do material pra criar um efeito estufa. Imaginem um lugar superlotado e abafado, no dia mais quente da estação!

Nas músicas mais pesadas, tudo se igualava num grande esporro sem nexo, de doer os ouvidos. Ok, eu sei que não dá pra ir a um show esperando ESCUTAR música. É mais um grande momento tribal de êxtase e catarse. Mas nessas horas nem dava pra classificar o som de ruim, pois pouco se diferenciava de uma britadeira, e não era culpa da banda. Tudo bem que esse limbo sonoro era momentâneo, mas eu me pergunto: não dava pra evitar?

Os únicos instrumentos que se destacavam eram a bateria e os teclados, e a voz de Alex, mas não o tempo todo. Falaram tanto do som baixo no show do U2, mas no Morumbi tava MUITO MELHOR!!

Depois que você desembolsa 110 reais, é natural se tornar um consumidor exigente. Então, vá lá, o show foi bacana, muita empolgação, os caras são legais, tocam muito bem (ainda que não tenha podido apreciar muito essa característica). Houve momentos verdadeiramente apoteótico, como em Take me out, 40 e This Fire.

Não deixou de prejudicar uma certa competição, por parte da platéia, que queria igualar ou superar a performance no show do Circo Voador, em fevereiro. Alguém tem que explicar pra essas pessoas que momentos mágicos simplesmente acontecem. Eles não podem ser fabricados ou repetidos, ou mesmo revividos. Aí já não é mais mágica, é truque!

Por Flávio Maurício Andrade
Foto por Leonardo Aversa
!!!EU FUI!!! SLAYER - Circo Voador - RJ (06/09/06)

O Slayer, banda-referência do thrash metal e de suas fusões com o hardcore, que completa 25 anos, fez um show histórico na Fundição Progresso, no Rio, na quarta-feira, 06 de setembro.
Há oito anos a banda não tocava no Brasil. A última vez que se apresentou no País foi em 1998, no Monsters of Rock, no Ibirapuera, em São Paulo. Não tocava no Rio desde 94, quando dividiu o palco do extinto Imperator com o Suicidal Tendencies.

O grupo está em turnê de divulgação do novo álbum "Christ Illusion" (2006). Fez três shows no Brasil: Rio, São Paulo e em Belo Horizonte. Desde o lançamento de "Seasons In The Abyss" (1990) que o Slayer não lançava um disco com a formação original. O lendário baterista Dave Lombardo está de volta depois de mais de uma década afastado. Deu vida nova ao som da banda, que tinha como titular das baquetas Paul Bostaph, um bom batera, mas que não tem a pegada flexível, diferenciada e porrada de Lombardo. Quando o relógio bateu meia-noite em ponto, Tom Araya (vocal e baixo), Kerry King - com a clássica pulseira de pregos - e Jeff Hanneman (guitarras) e Lombardo entraram no palco de uma Fundição lotada, ansiosa e com muita fumaça no ar. Abriram o show com "Disciple", do álbum "God Hates Us All" (2001), e na sequência levaram "War Ensemble", do disco "Seasons...", para delírio do público, que, no gás, abriu um clarão de pogo; quem estava na frente foi literalmente jogado pela multidão para os lados.

O som que sai das paredes de Marshall, nove cubos de um lado, o de King, e nove do outro, no de Hanneman, criam uma atmosfera para Dave descer a mão na batera. O cara é sinistro mesmo, no melhor sentido da palavra. Aos 45 anos, magro e de boné pra trás, está tocando como nunca.Ao vivo, sente-se a pressão estimulada por cada virada nos três tontons - muito graves -, por cada quebrada no surdo e pratos, ou por cada seqüência de dois bumbos. O som bate no peito, fazendo a pele tremer, e, junto com os riffs e solos destruidores de guitarras, o baixo pesado e o vocal rasgado de Araya, faz o P.A. berrar sonoridades extremamente brutais.

À frente Tom, com um grande cavanhaque grisalho, destila vigor ao cantar e bater a cabeça sem parar. A galera, que lota o local, vai junto, berra, urra, canta, e, com os dedos pra cima, faz os clássicos chifrinhos do metal.Ao fundo do palco, compõe o cenário um banner enorme de um Cristo sem mãos, mutilado, figura que está na capa do novo disco. Com traços multiétnicos e fisionomia de luta, leva no peito, tatuado, um Cristo crucificado, curiosamente com a inscrição 'Jihad' - título de uma música de "Chist Illusion", que conta uma história da perspectiva de um terrorista - acima da imagem, em alusão à Jihad Islâmica, a "cruzada religiosa" entre ocidente e oriente. Do disco novo só levaram "Cult", que fala sobre guerras religiosas.

Através de sua música, o Slayer traduz a realidade sinistra e deplorável do mundo. Em 2006, século 21, as guerras ideológicas, religiosas, étnicas e "preventivas" continuam sendo uma terrível linguagem universal.Em uma hora e meia de show, a banda fez uma viagem que sintetiza uma época que começa em 1983, com o lançamento do álbum "Show No Mercy", passa pelos 90 e chega nos anos 2000. Tocaram vários clássicos, dentre eles, "Raining Blood", "Mandatory", "Seasons In The Abyss", "Postmortem", "Silent Scream" e "Dead Skin Mask".

No fim do set os slayers saem do palco, e dois minutos depois voltam com o riff de "South Of Heaven", numa dobradinha sinistra com "Angel Of Death", para fechar com chave de ouro.Foi um revival dos anos 80/90. Um show clássico, de uma puta banda de metal que sabe se reinventar e sobreviver.

Por Mariana Vitarelli

Foto: Pepe Brandão