26.4.07

LOS HERMANOS - Acabou???

É... mesmo para aqueles que já previam que isso fosse ocorrer um dia, foi uma surpresa. O Los Hermanos, uma das bandas mais legais que apareceram nos últimos anos, notificou ao público a sua separação.

O fato é, que ninguém ainda tem certeza do motivo real desta separação, e nem se ela será definitiva. Acredito eu, que nem a banda saiba dar essa resposta. A única certeza é que eles irão fazer dois shows de despedida nos dias 08 e 09 de junho na Fundição Progresso, Rio de Janeiro.

A banda informou que a separação foi amigável, e que com aquela típica ironia do quarteto, informaram que, inclusive, "eles ainda jogam truco todas as quintas-feiras".

O Los Hermanos foi formado no fim da década de 90 por estudantes universitários, e após algumas demos cultuadas, chegaram ao seu primeiro disco em 1999, homônimo. Mesmo com uma sonoridade atrativa, que misturava o hardcore à marchinhas de carnaval e poesias melancólicas, eles ficaram conhecidos pelo hit chiclete "Anna Julia". Música esta que mais tarde, a banda passaria a renegar em seus shows, como uma forma de tentar valorizar suas obras em um todo. O vídeo clipe de "Anna Julia" contava até com a atriz global, e tanto o vídeo quanto a música, foram executados exaustivamente durante todo o ano seguinte.

Foi mais ou menos nessa época que a banda começou a ter os primeiros problemas com a gravadora. Na escolha da segunda música de trabalho, a gravadora obrigou os rapazes a conceder a balada "primavera", e não, "quem sabe", sugerida pela banda, que acabou se tornando mais tarde o último hit deste primeiro disco.

Los Hermanos vendeu 2 milhões de cópias e a banda cumpriu uma agenda lotada de shows e especiais.

Em 2001, com o fim da gravadora Abril, e a incerteza que rondava o futuro, eles acabaram também demitindo Patrick e passaram a ser um quarteto. Foi a partir daí que Kassin, entrou na história do Los Hermanos. Ele gravou os baixos de Bloco do Eu Sozinho.

Produzido por Chico Neves, Bloco do Eu Sozinho é certamente o marco na história deste grupo. Foi com este disco que a banda trilhou o seu futuro. Ele foi o divisor de águas na carreira destes rapazes. Mesmo não agradando a gravadora, que esperava algo mais comercial, Bloco do Eu Sozinho é considerado para muitos, um dos melhores trabalhos da última década.

As agendas esvaziaram, as vendas encalharam, mas o respeito obtido com este trabalho foi de extrema importância para história da banda. E a partir deste, começou a existir o tal culto por parte dos fãs.

Isso fez com que a ansiedade para o próximo disco fosse tamanha, tanto por parte de crítica, como pelos fãs.

Ventura, lançado em 2003, superou todas as expectaticas. Considerado pela maioria dos fãs como o melhor disco da banda, este trabalho foi o responsável pela consolidação do grupo. O Los Hermanos passou a obter uma cultuada procura por seu nome. Todos os shows estavam lotados e seus fãs, tratavam a banda com um messianismo comparado por muitos, ao mesmo obtido na época da Legião Urbana. O disco foi produzido por Kassin, que acabaria ocultamente, se tornando o quinto hermano. Isso, lógico, sem falar no trio de metais.

O Sucesso da turnê foi tão grande, que eles resolveram lançar o primeiro DVD ao vivo da carreira. Gravado no Rio de Janeiro, o Cine Íris foi apertado para o público que lá esteve.

Respeitados por crítica e público e com uma legião de seguidores invejável, o Los Hermanos lançou o quarto disco da carreira sem nenhuma pressão nos ombros. 4(2005) é certamente o disco mais introspectivo da banda. E mesmo sendo muito bem aceito pela mídia, ele dividiu os fãs. Aqui a diferença entre Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante já estava explícita. O disco parece dividido em duas partes: As músicas de Camelo e as de Amarante, tamanha a diferença musical entre os dois. Mesmo assim foi disco de ouro.

Parecendo já advinhar o que aconteceria futuramente, uma coletânea da banda foi as lojas no fim do ano passado. A edição PERFIL Los Hermanos, traz um apanhado dos maiores sucessos do grupo no período entre 1999-2005.


DISCOGRAFIA COMENTADA


Los Hermanos (1999) - O disco de estréia do grupo foi um estouro. Carregado pelos hits explosivos "Anna Julia", "Primavera" e "Quem Sabe", o Los Hermanos tornaram-se conhecidos e "da moda". Mas o que muita gente não sabia, era que Los Hermanos tinha um caráter artístico fortemente injetado em seu hardcore. O tal emocore de hoje em dia, é algo lapidado neste disco. As letras eram verdadeiras poesias e os metais se encaixavam perfeitamente com a distorção das guitarras. Clássicos como "Pierrot" e "Descoberta" provam que eles ainda tinham muito o que mostrar.

Bloco Do Eu Sozinho (2001) - Sedentos por mudança, o Los Hermanos conseguiu a sua "obra-prima" neste Bloco do eu sozinho. O título do disco, muito bem escolhido, trouxe o espírito do disco estampado na capa. Logo na abertura do CD, "Todo Carnaval tem seu fim", mostra que aquela tietagem tinha ficado para trás. A quarta-feira de cinzas é aqui. Rodrigo Amarante, muito mais presente na banda, conseguiu demonstrar o seu talento. Músicas como "Retrato pra iáiá" e a "Sentimental", traziam uma melodia mais densa do que no primeiro trabalho, mas a riqueza dos versos ainda estavam aqui contidos. A partir daqui, o Los Hermanos conseguia adquirir um respeito que muitos artistas almejam. E Bloco do Eu sozinho, tornou-se um dos pilares da última década.

Ventura (2003) - Sem a preocupação em buscar uma identidade, ou de provar algo para alguém. A banda perpetuou o trabalho mais bem resolvido de toda a sua história.Ventura é uma união de todos os elementos presentes na carreira deste grupo. Aqui, os detalhes são mais explorados e a beleza vence no final. Clássicos como "O Vencedor" e "Último Romance" mostravam que a banda tinha conseguido atingir de novo as rádios sem precisar fugir de sua sonoridade. E fizeram certamente o disco mais característico deles. Aqui estão as melhores letras, as melhores melodias e o mais longo trabalho. Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo se completam neste grande álbum. Se há alguma palavra que possa definir com mais intensidade toda arte, toda euforia e todo culto por Los Hermanos, essa palavra é Ventura.

4 (2005) - Com o campeonato já garantido, o Los Hermanos deixou à vontade seus dois compositores principais. E eles, fizeram em 4, o que achavam melhor. Aqui está um disco dividido entre a veia "popular brasileira" de Marcelo Camelo e a visão britpop de Rodrigo Amarante. Talvez por isso, as músicas compostas pelo segundo, mexeram mais com a legião hermânica. Petardos como "O Vento" e "Condicional", ajudaram o álbum a ganhar rápido, rápido, o disco de ouro. A melancolia das letras e a levada introspectiva das canções, fez com que muitos considerassem este disco, "grande arte", comparando-os até com o cultuado Radiohead.

Bruno Eduardo

16.4.07

!!!EU FUI!!! AEROSMITH e VELVET REVOLVER - (12/04/07) - Morumbi -SP


Alguns shows você consegue assistir com um certo distanciamento, presta atenção nisso e naquilo, é capaz de fazer uma análise mais fria da coisa toda. Mas existem aqueles shows em que você simplesmente se deixa levar pelas músicas e custa a acreditar que está ali, vendo ao vivo aquelas pessoas que você só via em encarte de CD e na MTV. Aconteceu isso comigo em meu primeiro show internacional, o Bon Jovi em 95. Aconteceu no primeiro show do U2 em 98. E aconteceu ontem com o Aerosmith. "Get a Grip" foi o segundo CD que comprei na vida, logo depois de "Tourism" do Roxette e logo antes do "Zooropa" do U2. Os singles e os clipes tirados desse disco marcaram toda a minha adolescência. Então não importa se o som estava ruim, se a acústica do Morumbi não é a mais adequada ou se o público estava ali pela "balada", porque nada disso importa quando você tem heróis na sua frente.

O heroísmo começou já no show de abertura com Slash, Duff McKagan e Matt Sorum, os ex-Guns N'Roses, agora com o Velvet Revolver e Scott Weiland (ex-Stone Temple Pilots) no vocal. Nos EUA, quem vinha abrindo os últimos shows do Aerosmith no ano passado era o Cheap Trick, infelizmente sem um mínimo de reconhecimento que justificasse a vinda ao Brasil. O Velvet Revolver ocupou bem a vaga, embora o público brasileiro também conheça pouca coisa da banda e insista no antológico grito "Toca Guns!". Apenas os dois hits do repertório do VR mexeram com a platéia: a baladaça "Fall to pieces" e a ótima "Slither". No mais, o público gostou mesmo foi dos clássicos do GNR "It's so easy" e "Mr. Brownstone", embora grande parte do pessoal que gritou "Toca Guns!" desconhecesse essas músicas da banda. O performático Weiland canta muito mais do que o atual Axl Gordo e não tem medo de rebolar igual a ele. Mas apesar de todo o carisma do vocalista, o show é mesmo de Slash. O público chega a parar pra assistir seus solos, como se estivesse assistindo a uma ópera. E depois delira como se um jogador tivesse dado um belo drible no adversário.

O Velvet Revolver entrou no palco pouco depois das 21h e, em mais de 1h de show, mesclou músicas do álbum de estréia "Contraband" com músicas do novo álbum a ser lançado em breve, além das covers de Guns N´Roses e Stone Temple Pilots ("Sex Type Thing" em versão mais hard rocker e quase progressiva). Mostrou-se uma banda de presença no palco, mas ainda procurando seu espaço. O fato de abrir pro Aerosmith, um dos últimos sobreviventes do hard rock clássico, mostra que estão no caminho certo. Pelo menos estão melhores do que o Guns oficial, que infelizmente vem virando motivo de piada por aí.

Depois do ótimo aquecimento proporcionado pelo VR, o Aerosmith apareceu por volta das 22h40 com um telão sensacional atrás do palco que garantiu a diversão de todos no estádio. Experiente no ramo, o Aerosmith sabe como usar a câmera e o telão pra criar um espetáculo em estádio. A iluminação caprichada e os ventiladores que a todo momento proporcionavam imagens de videoclipe, com Steven Tyler e Joe Perry de cabelos esvoaçantes, mostram porque a banda soube usar tão bem a MTV nos anos 90.

O show começou com "Love in an elevator" e não perdeu o pique com "Toys in the attic" e "Dude looks like a lady". O repertório, que vinha destacando clássicos dos anos 70 na turnê americana, foi alterado para o Brasil, onde a banda não pisava desde o Hollywood Rock do começo dos anos 90. Tivemos um setlist especial que foi praticamente uma coletânea, um greatest hits. E quantos hits, rapaz. Um atrás do outro. O estádio cantou "Cryin'" em coro, com direito a cenas do clipe com Alicia Silverstone e Stephen Dorff no telão, um momento particularmente emocionante.
As baladas foram bem representadas por "What it takes" e "I don't want to miss a thing". O hino "Dream on", o momento isqueiro ao alto da noite (agora é celular ao alto) arrancou lágrimas até dos metaleiros presentes. A sessão blues tomou conta com as músicas do CD "Honkin on Bobo", onde Joe Perry mostrou por que é mestre e por que tem discípulos do calibre do próprio Slash. Aliás, a grande decepção, mais do que qualquer hit que tenha faltado em um setlist praticamente perfeito, foi a falta de uma jam entre os dois guitar heroes. O Morumbi não vê uma dupla assim desde que Josué e Mineiro se separaram.

Entre os clássicos, "Seasons of Wither", "Draw the Line", "Sweet Emotion" e "Walk this way", essa última já no bis, valeram o preço do ingresso. Entre os sucessos recentes, "Jaded" nos lembra que o Aerosmith está devendo um álbum de inéditas já há alguns anos. E entre outros clássicos de FM, "Falling in love (is hard on the knees)", "Rag Doll" e "Janie's got a gun" marcaram presença.

Steven Tyler comandou o show como um garoto com suas danças e seus gritos típicos que, pra variar, não demonstraram sua idade avançada e toda a droga que ele já tomou na vida. O pai da Liv continua sendo uma das figuras mais carismáticas da história do rock, fazendo com Perry uma daquelas duplas perfeitas como Page/Plant e Jagger/Richards. Mais discretos, o guitarrista Brad Whitford, o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer completam o elenco perfeito que se mantém desde os primórdios da década de 70.

Lá pelas 12h30 o Aerosmith se despediu sem grandes frescuras além do tradicional "Obrigado São Paulo" e declarações de que sentiram nossa falta nos últimos anos. Tyler não precisa de blablabla pra conquistar o público.

Deus, por que não temos mais bandas como o Aerosmith e mais frontmen como o Steven Tyler? Em um mundo onde as consideradas bandas grandes resolvem fazer "shows intimistas" com cadeiras numeradas em lugares apertados e surtam com o peso da fama, é melhor valorizar os últimos suspiros dos chamados "dinossauros do rock", por mais que seus hits saturem nas rádios, por mais que eles lancem coletâneas caça-níqueis todo ano, por mais que a crítica os considere superados e em fim de carreira.

O que eles não entendem é que músicos e popstars vêm e vão, mas os heróis - esses são eternos.

Renato Thibes (Registro Dissonante)
Foto por Marcelo Rossi.

12.4.07

PLAY 444
KORN - Unplugged MTV XXX

É...

A única banda que sobrevivia fiel ao estilo New Metal resolveu mudar, o Korn lançou seu CD Unplugged MTV. Vou ser sincero, eu fiquei muito surpreso com o trabalho.

Para quem estava acostumado com o Korn pesado, com som agressivo, vai estranhar muito, acredito eu, que vai chover críticas à banda por ter mudado o som. Mas muitos esquecem também que acústico é assim mesmo, e que a banda não está fugindo do seu estilo. É apenas um álbum desplugado, com suas versões lentas e bem trabalhadas.

O Unplugged MTV traz como convidados a Amy Lee, do Evanescence, com sua linda voz aguda em “Freak on a leash”, versão lenta e melódica, que também é o primeiro single do álbum a tocar nas rádios. Traz também Robert Smith, vocalista do The Cure, em “Make me Bad” misturada com “In between days”, pra mim melhor musica do álbum com ótimos arranjos e, quem diria (se tratando de Korn), gostosa de se ouvir.

O Korn ainda se arrisca num cover de “Creep” do Radiohead, até se esforçam tentando fazer algo legal, mas poderia ter ficado melhor. Gostaria de destacar as faixas “Falling away from me” e “Coming Undone”, versão acústica que mesmo assim, ficou pesada.

Enfim, como muitas bandas, o Korn lançou seu álbum Unplugged também, que na minha opinião é somente pra vender mesmo, pois por diversas vezes o formato não se encaixa com o som de determinada banda, que é o caso deste Korn.

Que venha o próximo álbum de inéditas pra vermos se realmente eles mudaram ou não.

Raphael Loureiro

11.4.07

PLAY 444
FOO FIGHTERS - Skin and Bones XXXX

ESQUEÇA O CD! ASSISTA O DVD!

Comprei o disco novo do Foo Fighters um mês antes do DVD (que demorou séculos pra chegar nas lojas). Confesso que nem estava tão empolgado assim, porque esse negócio de acústico já encheu o saco. Mas, caceta…era Foo Fighters…

Cheguei no carro e botei o disco pra rodar.

Nas 3 ou 4 primeiras audições do disco, não tive grandes surpresas. Um set list até diferente do habitual, mas aquela coisinha insossa que reina nos acústicos. Foo Fighters sem pressão? Dave Grohl quase sem suas gritarias? Parecia uma banda cover e medíocre, tocando algumas de minhas músicas preferidas.

Mesmo assim, há duas semanas atrás, resolvi comprar o DVD. Diferente do que costuma acontecer (principalmente com minhas bandas preferidas), dessa vez levei uma semana pra abrir a embalagem.

A diferença entre o que se ouve e o que se vê (nesse caso) é absurda. “Skin And Bones” é emocionante do começo ao fim.

A escolha das músicas faz todo sentido. Os músicos convidados integraram-se de forma espetacular. Dave Grohl mostra toda a sua capacidade como músico, cantor e como “entretainer”. Suas diversas intervenções (bizarramente cortadas no disco) levam a platéia ao delírio.

O que eu acho mais bacana nessa banda, não é a técnica. O que vale a minha consideração como a melhor banda de rock dos últimos 10 anos é a energia que esses caras levam para o palco. O Foo Fighters é um quarteto vigoroso – e que tem um líder genial e criativo, que achou a fórmula do sucesso em riffs, melodias e letras perfeitas. Está tudo lá em SKIN & BONES.

A capacidade de renovação que eles possuem também é muito importante, para manter a banda na crista da onda. Eles realmente não se tornam cansativos, mesmo depois de 7 discos (fato raríssimo no panorama atual). Ao contrário da grande maioria das bandas da atualidade, o segundo disco foi melhor que o primeiro.

A atitude também conta. Eles não assumem um papel de estrelas inacessíveis, xiliquentas e mau humoradas. Dave Grohl passa a maior parte do show tirando sarro com os seus companheiros e com a platéia.

Todos os integrantes também possuem projetos paralelos – o que preserva o clima divertido entre todos, mesmo depois de tantos anos. Aliás…na minha opinião, o disco do baterista é um dos melhores de 2006 (Taylor Hawkins & The Coattail Riders).

Vida longa ao Foo Fighters!

Leo Cabonel

10.4.07

"Era uma vez, há 15 anos... "

R.E.M. - Automatic for the People (1992)


O R.E.M. tinha acabado de lançar o seu disco mais famoso até o momento, Out of Time. Com este trabalho de 1991, o grupo faturou todos os prêmios possíveis, incluindo o Grammy e o MTV awards. Tudo isso por conta dos mega-hits, "losing my religion" e "shinny happy people". Que além de boas músicas, possuíam vídeos capazes de cativar até aqueles considerados não-fãs.

Só que antes disso, nada tinha sido tão grande para eles. Até mesmo na época de Document (1987), em que conseguiram disco de platina e emplacaram o poderoso hit "The One I love", a atmosfera era mais branda. Certamente Document, não tinha ainda dado a banda um caráter de respeito, mas sim, uma versão de descoberta, aquela das estrelas cadentes, que fazem diversas bandas acontecerem.

Mas vamos adiantar a fita outra vez, e chegar a 1992.

Logo após ao estouro causado por Michael Stipe e sua banda, o R.E.M. esqueceu o rock dançante de Out of Time e se apegou a acordes clássicos e melodias mais limpas. Todo aquele groove do trabalho passado, deu lugar a um ritmo cadenciado. Muitos dizem que essa influência veio, quando eles gravaram um acústico no ano anterior. Nas lojas, chegava Automatic For The People. Um disco grandioso.

Automatic For The People é considerado pela crítica especializada como o melhor disco da banda. Michael Stipe se consolidou de vez como mega star. Suas letras estavam mais tocantes, e sua interpretação foi no talo.

O início do disco é arrasador. "Drive", poderosíssima, abre o petardo com uma narração de auto questionamento, carregado por uma guitarra que acompanha o crescimento da melodia, quando há de ser. Que vai, pára, volta e apressa o ritmo de acordo com a vontade de Stipe. Ali mesmo, o R.E.M. já tinha dito o porquê de tudo isso. O disco já estava explicado.

O que veio a seguir, serviu para emoldurar a arte. Canções orquestradas, melancólicas, pianos clássicos e um rock, que se não tinha um ar tão juvenil como na época de Green (1988), ainda assim, soava como R.E.M.

Com um pouco de exagero, todos os elementos acima citados, faziam desse trabalho um tanto quanto temático.

Peter Buck, guitarrista da banda, definiu: "Nós fizemos um álbum de folk rock orquestra". Uma bela definição certamente.

O ritmo de fim de festa, vem à tona na música "The Sidewinder Sleeps Tonite". É a típica canção que caíria bem no momento em que todo mundo tivesse deixado a festinha, e a bebida ainda sobrasse na geladeira.

Mas os momentos que marcaram esse disco, foram os momentos mais delicados. Face esta, que o grupo ainda não tinha mostrado ao mundo. Não com tanta intensidade e por que não? Dramaticidade.

Representado em maior grau pela já clássica "Everybody Hurts", o R.E.M. deixou de lado toda aquela aquarela de "Shinny Happy People", para mostrar o cinza que marca a capa deste disco. E que mesmo assim, engana a quem puder pensar que a melancolia caminha só. Não mesmo.

Ainda que Automatic For the People não tivesse um poder comercial como o anterior (que vendeu cerca de 10 milhões de cópias no mundo), pois não possuía hits bombásticos capazes de provocar o mesmo frizon de uma "losing my religion", por exemplo, ele surpreendeu os analistas de mercado.

De cara, o disco entrou direto no segundo lugar da Billboard e encabeçou a parada inglesa. E também não só vendeu na mesma proporção que Out of Time, como ultrapassou (Automatic For The People vendeu em média 12 milhões de cópias).

Mas não espere encontrar aqui, aquela bandinha que tomou conta da MTV em 1991. Não espere dançar de início. Automatic é um disco que vai te conquistar aos poucos, mas que no fim, certamente você irá se alistar à tal trupe que coloca o álbum na berlinda.

Ao terminar de escutar o disco, você pode até ter saudade de "losing my religion", "shinny happy people", "the one I love", mas terá a certeza ao dizer que acabou de escutar o melhor disco desta banda. Ou quem sabe, o mais inspirado deles.

Bruno Eduardo

9.4.07

PLAY 444
MUTANTES - Ao Vivo - Barbican Theatre, Londres XXXXX

Os Mutantes é a banda nacional mais respeitada internacionalmente na história do rock nacional!

Nossa que frase hein?

Mas é a pura verdade. Até ontem, os Mutantes eram história, hoje eles são realidade. Tudo isso devido a união ou melhor dizendo, a reunião dos músicos de origem, com exceção de Rita Lee para uma série de apresentações, começando por teatros na Europa.

Para o lugar de Rita, Sérgio dias convidou Zélia Duncan. Se a escolha foi de tamanha surpresa para a artista, também surpreendeu os fãs e os críticos. Zélia contou que depois do convite, ligou para Rita Lee para deixar tudo limpo.

A tal volta dos Mutantes torceu o bico de muita gente e franziu a testa de alguns. Os tradicionalistas consideraram a volta desnecessária. Papo furado!

O CD/DVD dos Mutantes pode não definir o que foi a banda na década de 70. Mas certamente definirá o que a música perdeu nesses quase 30 anos de inatividade forçada.

Ainda que boa parte daquela doideira tenha ficado para trás, junto com o tempo, mas ainda intactos pela história, o espírito desses Mutantes, ainda permanece visível nos olhares dos músicos e no coração de um fã. No fim das contas, o que lamentamos de verdade não é a volta desses grandes músicos, tocando excelentes músicas, mas sim, a falta de oportunidade que os jovens de hoje, tiveram de conhecer a banda no auge de sua criatividade musical.

Mesmo assim, quando olhamos meninos e meninas de em média 20 anos assistindo-os em Londres, ficamos orgulhosos que a música tenha dado essa oportunidade a eles, de conhecer ao vivo essa lenda, que até aquele dia, só era conhecida pela opinião de um crítico ou pela audição de um disco.

Os Mutantes, certamente não irão conseguir fazer brotar mais fãs como há algumas décadas, mesmo porquê, ninguém sabe se eles irão criar algo futuramente, mas após ouvir as cornetas de "Dom Quixote" há a certeza de que os antigos fãs estarão deliciados.

A música fez a sua parte.

Bruno Eduardo.
PLAY444
INCUBUS - Light Grenades XX


Eu sempre gostei do Incubus. É uma das bandas atuais que me arrisco a comprar alguns CD´s. Hoje, infelizmente, cabe a mim resenhar este novo trabalho deles.

Light Grenades é uma continuação descarada de A Crow Left of Murderer, o antecessor, e diga-se de passagem, bom disco. Mas todo aquele rock injetado no último não teve espaço aqui. Os elementos eletrônicos, deram espaço ao experimentalismo progressivo, que sem objetividade cansa os ouvidos de qualquer um.

O Incubus que começou a pensar nas baladas a partir do terceiro disco, investe pesado neste trabalho atual. O que para muitos seria um grande problema, aqui é a salvação da lavoura. Curiosamente, os melhores momentos do Incubus em Light Grenades, são exatamente, quando a banda decide não tocar rock.

Com exceção de "rogues", toda vez que houve a tentativa de se fazer um rock, eles erraram feio. E acabaram soando, de alguma forma, como um Incubus sem face, totalmente descaracterizado. O que para o Incubus é um ponto bem considerável.

Lógico que o Incubus nunca foi a "salvação do rock", mas sempre foram honestos com suas propostas e conseqüentemente mantinham uma identidade bem definida.

E em Light Grenades, a única identidade do Incubus fica presa à todas as baladinhas, que mesmo soando como um Red Hot Chili Peppers da nova geração, ainda assim, soam como Incubus.

Bruno Eduardo
PLAY 444
KAISER CHIEFS - Yours Truly, Angry Mob XXX

Sei lá, mas não sei porque essa birra toda com os Kaiser Chiefs. Tem nego que quer ser indie demais e fica, em pleno 2007, com essa mania de que tudo que virou mainstream não é legal. Vá procurar o que fazer! Os Kaiser são divertidos e sabem realmente como compor aquele hit arrasa-quarteirão.

É britpop sem tirar nem por, e me desculpa, quando se trata de hit, o britpop sabe dar conta do recado muito bem. E o fato de serem mega-famosos não tira esse brilho deles. Esse segundo disco “Yours Truly, Angry Mob” é um repeteco do primeiro, aquela coisa alto-astral, típico dos momentos mais dançantes do Blur e Mensawear. E a postura dos Kaiser também é ótima, fazendo deles uma puta banda ao vivo.

O primeiro single é um amor de canção. Teve um amigo que me disse que odeia essa música. Vish, não sabe o que está perdendo. Tem alguma outra faixa mais pegajosa que RUBY RUBY RUBY RUBY ? Não conheço.

Olha, esse Kaiser Dois não tem nada de original ou inventivo. E qual o problema? É apenas pra nos divertir e nos fazer cantar juntos, um festival de faixas descontraídas, cheias de clichês que tanto gostamos, letras superficiais e refrões cativantes. A gente vai escutando e vai curtindo, percebendo que já ouvimos aquilo antes, mas a gente releva, desencana, deixa o alto-astral tomar conta. Afinal, superficialidade as vezes é bom. O próximo sujeito que vier choramingar a vida pra mim, vou recomendar esse Kaiser Dois, não tem melhor remédio.

Destaques: “Ruby”, “Everything Is Average Nowadays”, “Heat Dies Down”, “The Angry Mob” e “High Royds”.

COR
PLAY 444
THE KLAXONS - Myths of a Near Future XXX

É dificil um hype me pegar. Normalmente, ouço, comparo com algo de que gosto e descarto, sempre achando que o "original é melhor".

Porém, cada dia está mais dificil ficar só com os originais, porque a facilidade de se ouvir bandas novas hoje é fantástica. Impossível alguém, por exemplo, ficar escondendo uma música pra si por meses, como acontecia nos anos 90.

"Ah, tenho uma ótima do Beck, que só saiu na trilha do Life Less Ordinary."

E ponto final, se a pessoa gostasse do Beck ia ter que gastar uma bela grana pra conseguir a tal musiquinha e ainda corria o risco de não gostar.

"Baixei" ontem o álbum todo do Klaxons. Mais hype que eles ultimamente não tem.
Eu já tinha escutado duas músicas e tinha achado bacaninha, mas não TUDO isso.
Descompactei o arquivo .rar e mandei pro player (agora com mouse tudo fica mais rápido, haha). Ouvi a primeira música e achei legal. Ouvi a segunda e "tilt"!!!! Pensei "conheço essa, mas... não como Klaxons e sim como Black Keys. Caramba."

Que nerdice a minha!!! Provavelmente a que tinha anteriormente salvei com nome errado!!!
A música é "Atlantis the Interzone". Poderosissíma na pista! Tem uma batida que o Tarantino usou em Kill Bill. E eu já havia discotecado ela várias vezes, só não sabia que era dos moleques neon.

É, desta vez o hype me pegou e se vingou!

Vanessa gummo

5.4.07

!!!EU FUI!!!
ROGER WATERS - Apoteose/RJ ( 23/03/2007)
"O show de 23 de março, de Roger Waters na Apoteose foi realmente apoteótico. Algumas dezenas de milhares de pessoas saíram de suas casas para formar uma multidão, a fim de poderem, nostalgicamente, rever os grandes sucessos do Pink Floyd. Felizmente aquilo que deveria ser apenas nostalgia virou um grande acontecimento, pois Waters, e sua incrível banda, fizeram jus à proposta pretensiosa de, como que em um culto secreto, despertar os mortos.

Na verdade o que pôde ser presenciado foi um grande espetáculo. Além dos sucessos de cds como Wish You Were Here, The Wall e The Dark Side of the Moon – este tocado na íntegra e de forma espetacular –, o show contava com um cenário, formado com uma grande tela de alta definição com grandes efeitos de profundidade, na qual belas projeções, a maioria ao estilo psicodélico, intensificavam ainda mais as sensações das músicas. Além disso, bonecos infláveis, labaredas, explosões – em um delas, por sinal, o gerador pifou, interrompendo o show por cerca de dez minutos, mas nada que desanimasse todo aquele povo.

O show se dividiu em duas partes, sendo a segunda o grande ápice, em que as músicas do The Dark Side of The Moon foram interpretadas. Palmas, em especial, para a cantora de The Great Gig in the Sky, que impressionou com sua poderosa voz e, embora ao seu estilo, fez reviver a versão do CD. Ao fim, já no bis, para Another Brick in the Wall, ainda houve a participação de um coro infantil. Além dos clássicos, Waters tocou algumas músicas de sua própria autoria e deu, em certos momentos, um tom crítico-político ao show, com protestos contra guerras – e bandeiras que representam guerras.

Em resumo: um show brilhante, que superou as dificuldades naturais do espaço da Apoteose e contou com um som de muito boa qualidade. Roger Waters realmente conseguiu superar as expectativas e, por um momento, permitiu que diferentes gerações saboreassem um pouco daquela incrível música floydiana."

Marlon Cardoso Pinto Miguel