16.4.07

!!!EU FUI!!! AEROSMITH e VELVET REVOLVER - (12/04/07) - Morumbi -SP


Alguns shows você consegue assistir com um certo distanciamento, presta atenção nisso e naquilo, é capaz de fazer uma análise mais fria da coisa toda. Mas existem aqueles shows em que você simplesmente se deixa levar pelas músicas e custa a acreditar que está ali, vendo ao vivo aquelas pessoas que você só via em encarte de CD e na MTV. Aconteceu isso comigo em meu primeiro show internacional, o Bon Jovi em 95. Aconteceu no primeiro show do U2 em 98. E aconteceu ontem com o Aerosmith. "Get a Grip" foi o segundo CD que comprei na vida, logo depois de "Tourism" do Roxette e logo antes do "Zooropa" do U2. Os singles e os clipes tirados desse disco marcaram toda a minha adolescência. Então não importa se o som estava ruim, se a acústica do Morumbi não é a mais adequada ou se o público estava ali pela "balada", porque nada disso importa quando você tem heróis na sua frente.

O heroísmo começou já no show de abertura com Slash, Duff McKagan e Matt Sorum, os ex-Guns N'Roses, agora com o Velvet Revolver e Scott Weiland (ex-Stone Temple Pilots) no vocal. Nos EUA, quem vinha abrindo os últimos shows do Aerosmith no ano passado era o Cheap Trick, infelizmente sem um mínimo de reconhecimento que justificasse a vinda ao Brasil. O Velvet Revolver ocupou bem a vaga, embora o público brasileiro também conheça pouca coisa da banda e insista no antológico grito "Toca Guns!". Apenas os dois hits do repertório do VR mexeram com a platéia: a baladaça "Fall to pieces" e a ótima "Slither". No mais, o público gostou mesmo foi dos clássicos do GNR "It's so easy" e "Mr. Brownstone", embora grande parte do pessoal que gritou "Toca Guns!" desconhecesse essas músicas da banda. O performático Weiland canta muito mais do que o atual Axl Gordo e não tem medo de rebolar igual a ele. Mas apesar de todo o carisma do vocalista, o show é mesmo de Slash. O público chega a parar pra assistir seus solos, como se estivesse assistindo a uma ópera. E depois delira como se um jogador tivesse dado um belo drible no adversário.

O Velvet Revolver entrou no palco pouco depois das 21h e, em mais de 1h de show, mesclou músicas do álbum de estréia "Contraband" com músicas do novo álbum a ser lançado em breve, além das covers de Guns N´Roses e Stone Temple Pilots ("Sex Type Thing" em versão mais hard rocker e quase progressiva). Mostrou-se uma banda de presença no palco, mas ainda procurando seu espaço. O fato de abrir pro Aerosmith, um dos últimos sobreviventes do hard rock clássico, mostra que estão no caminho certo. Pelo menos estão melhores do que o Guns oficial, que infelizmente vem virando motivo de piada por aí.

Depois do ótimo aquecimento proporcionado pelo VR, o Aerosmith apareceu por volta das 22h40 com um telão sensacional atrás do palco que garantiu a diversão de todos no estádio. Experiente no ramo, o Aerosmith sabe como usar a câmera e o telão pra criar um espetáculo em estádio. A iluminação caprichada e os ventiladores que a todo momento proporcionavam imagens de videoclipe, com Steven Tyler e Joe Perry de cabelos esvoaçantes, mostram porque a banda soube usar tão bem a MTV nos anos 90.

O show começou com "Love in an elevator" e não perdeu o pique com "Toys in the attic" e "Dude looks like a lady". O repertório, que vinha destacando clássicos dos anos 70 na turnê americana, foi alterado para o Brasil, onde a banda não pisava desde o Hollywood Rock do começo dos anos 90. Tivemos um setlist especial que foi praticamente uma coletânea, um greatest hits. E quantos hits, rapaz. Um atrás do outro. O estádio cantou "Cryin'" em coro, com direito a cenas do clipe com Alicia Silverstone e Stephen Dorff no telão, um momento particularmente emocionante.
As baladas foram bem representadas por "What it takes" e "I don't want to miss a thing". O hino "Dream on", o momento isqueiro ao alto da noite (agora é celular ao alto) arrancou lágrimas até dos metaleiros presentes. A sessão blues tomou conta com as músicas do CD "Honkin on Bobo", onde Joe Perry mostrou por que é mestre e por que tem discípulos do calibre do próprio Slash. Aliás, a grande decepção, mais do que qualquer hit que tenha faltado em um setlist praticamente perfeito, foi a falta de uma jam entre os dois guitar heroes. O Morumbi não vê uma dupla assim desde que Josué e Mineiro se separaram.

Entre os clássicos, "Seasons of Wither", "Draw the Line", "Sweet Emotion" e "Walk this way", essa última já no bis, valeram o preço do ingresso. Entre os sucessos recentes, "Jaded" nos lembra que o Aerosmith está devendo um álbum de inéditas já há alguns anos. E entre outros clássicos de FM, "Falling in love (is hard on the knees)", "Rag Doll" e "Janie's got a gun" marcaram presença.

Steven Tyler comandou o show como um garoto com suas danças e seus gritos típicos que, pra variar, não demonstraram sua idade avançada e toda a droga que ele já tomou na vida. O pai da Liv continua sendo uma das figuras mais carismáticas da história do rock, fazendo com Perry uma daquelas duplas perfeitas como Page/Plant e Jagger/Richards. Mais discretos, o guitarrista Brad Whitford, o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer completam o elenco perfeito que se mantém desde os primórdios da década de 70.

Lá pelas 12h30 o Aerosmith se despediu sem grandes frescuras além do tradicional "Obrigado São Paulo" e declarações de que sentiram nossa falta nos últimos anos. Tyler não precisa de blablabla pra conquistar o público.

Deus, por que não temos mais bandas como o Aerosmith e mais frontmen como o Steven Tyler? Em um mundo onde as consideradas bandas grandes resolvem fazer "shows intimistas" com cadeiras numeradas em lugares apertados e surtam com o peso da fama, é melhor valorizar os últimos suspiros dos chamados "dinossauros do rock", por mais que seus hits saturem nas rádios, por mais que eles lancem coletâneas caça-níqueis todo ano, por mais que a crítica os considere superados e em fim de carreira.

O que eles não entendem é que músicos e popstars vêm e vão, mas os heróis - esses são eternos.

Renato Thibes (Registro Dissonante)
Foto por Marcelo Rossi.

Um comentário:

Raphael disse...

Po o Unico show q falta pra mim das bandas prediletas é o Aerosmith pena q não vieram pro rio,