Você lembra do último disco que comprou? Lembra da sensação única de abrir o invólucro de plástico, olhar o interior, cheirar o papel do encarte, ler as informações integralmente enquanto o disco era lido pelo feixe de laser? É estranho perguntar sobre algo tão recente, colocando este ato como pertencente a um passado. O fato é que o mundo está mudando mais rápido que nossa capacidade de percepção e algumas atitudes estão sendo transformadas instintivamente. O consumo de música é algo que não pode mais ser comparado com o que era feito há cinco, dez anos.
Aqui, neste espaço a idéia é generalizar a todos, intencionalmente. Num universo em que arquivos digitais se transformam em música e vice-versa, o grande perigo é que toda música seja consumida de maneira efêmera e desimportante, o que é inaceitável. A música no computador parece um caso de amor que se transformou em casamento bem sucedido, de pessoas que nasceram uma para a outra. O grande motivo é a relação custo x benefício.
Façamos uma pequena conta de matemática. Se você quer comprar um disco nacional da sua banda preferida, provavelmente pagará algo em torno de 30, 35 reais. Você irá à loja, passará no caixa e levará o disco para casa, com todas as sensações descritas acima. São boas, justificam o investimento. Mas, e se você tiver um gravador de CD-R no seu computador?
Cada CD-R pode custar entre 1 e 3 reais. Fiquemos com a média, 2 reais. Já é cerca de 15 vezes mais barato que um disco original. Só que a capacidade de um CD-R é de 700 Mb, ou seja, há espaço na mídia para acomodar cerca de dez álbuns inteiros, com arquivos de imagem das capas e músicas gravadas em boa resolução. Se pensarmos que cada um desses dez álbuns é disponível no mercado nacional, o total do gasto, caso fossem comprados na loja, seria de 300 a 350 reais.
Mesmo assim, com todas as intempéries, a arte sobrevive a quase tudo. Muita gente que realmente gosta de música não vê como é possível não ouvir um bom disco jogado no sofá, fones no ouvido, lendo as letras do encarte, ficha técnica e outros dados que tendem a se perder nos meios digitais. Muitos ouvem o disco na internet antes, justamente para poder comprar com mais certeza. O artista, afinal de contas, merece a recompensa por seu trabalho e sua arte bem feitos.
E como o CD não anda muito barato, é mais do que justo poder ouvir antes de desembolsar 30 reais em média, para adquirir o produto. Eu faço isso sempre. Mesmo porquê, a arte do CD está dentro desta arte. O maior problema é que muita gente não trata mais a música como arte, nem o músico como artista. E acho até que o artista é muito culpado por isso. Pois deixa a postura de lado para o famoso clichê: "falem mal, mas falem de mim". E isso ocorre quase sempre na música alternativa ou independente. É uma pena.
EM BREVE lançaremos aqui na ROCK MAGAZINE, a seção NÃO BAIXE, COMPRE!
Que serão depoimentos de fãs e colaboradores sobre discos essenciais para se ter em casa.
Agradeço ao Carlos Eduardo Lima da Revista Rock Press, por ter colaborado com a gente nesse texto importante e ao mesmo tempo reflexivo.